REVOLUÇÃO FARROUPILHA

O Movimento Farroupilha foi um dos muitos movimentos liberais que
sacudiram a regência na 1ª metade do século XIX, na década de 30, e alcançou
de fato ser a 1ªexperiência republicana em território do Brasil.
Exaltados pela independência, os brasileiros de dividiram entre Liberais e
Conservadores, havendo nas duas grandes facções, subfacções de orientação
diversa.

Os Liberais, não apenas no Rio Grande do Sul, eram chamados
“Farroupilhas”, palavra do português castiço para designar “esfarrapados”. No Rio
Grande do Sul, os gaúchos abrasileiraram o termo, usando mais freqüentemente
a expressão “FARRAPO”. De uma maneira geral, os maçons dominaram, o
Partido Liberal no Rio Grande do Sul, adeptos da Maçonaria Francesa, de
inspiração republicana, que pregava a independência dos 03 poderes:
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Dizia-se que todas as decisões tomadas de
público pelos Liberais já tinham sido em segredo tomadas no recesso das “Lojas
Maçônicas”, a mais prestigiosa, das quais tinha por nome “Fidelidade e Firmeza”.


Próceres liberais mantinham um estreito contato com maçons de idêntica
orientação no Uruguai e na Argentina, sendo famosa a amizade entre Bento
Gonçalves da Silva e Juan Antônio Lavalleja, prestigioso caudilho uruguaio.

As causas políticas que levaram à Revolução foram muitas, sobretudo
graças à inabilidade do Presidente da Província, Dr. Antônio Rodrigues
Fernandes Braga, primeiro rio-grandense a ocupar tão alto posto. Fernandes
Braga denunciou Bento Gonçalves como conspirador e a recém empossada
Assembléia Provincial (20/04/1835), substituta do antigo Conselho Geral da
Província e onde o Partido Liberal tinha maioria, exigiu que o Presidente
Fernandes Braga apresentasse provas e este, em sessão secreta, não pôde fazê-lo,
Bento Gonçalves consolidava assim, sua posição de líder liberal.


A autoridade militar maior da província era o Comandante das Armas, Mal.
Sebastião Barreto Pinto, conservador ferrenho e feroz inimigo de Bento
Gonçalves, que fora comandante de fronteira em Jaguarão.
A brilhante carreira de armas de Bento Gonçalves, desde soldado raso até
Coronel da Guarda Nacional era causa do ciúme do velho Marechal Brasileiro.
O Rio Grande do Sul tinha na época 124 municípios e cidades com suas
vilas respectivas, uma população de aproximadamente 150 mil pessoas entre
brancos escravos e índios. Não havia escolas públicas, pontes, nem estradas em
condições.


Apesar do seu continuado sacrifício nas guerras de fronteira e apesar da
riqueza que o café acumulava na Corte, apesar da sangria na sua população
masculina dizimada pelas guerras, apesar do luto constante das mulheres
gaúchas, o Rio Grande do Sul não atraia qualquer atenção ou reconhecimento
por parte do império. O descontentamento era geral.
A economia passava por grave crise. Pesados tributos recaíam sobre as
atividades dos fazendeiros.



Os Dízimos, a que estavam sujeitos todos os produtos da pecuária, o
imposto de 100 mil réis por légua de campo e a taxa de 600 réis cobrada por
arrouba de charque exportado, abatiam-se sobre o Rio Grande do Sul pastoril de
modo asfixiante.


Contudo, é possível que a Revolução não houvesse explodido se para que
isso não tivesse contribuído a conduta intolerante de alguns homens.
Deve ser considerada Revolução apenas o movimento político-militar que
vai de 19 de setembro de 1835 a 11 de setembro de 1836, porque era revolta de
uma província contra o Império do qual fazia parte. A 11 de setembro de 1836 é
proclamada a República Rio-Grandense e então já não se pode mais falar em
revolução, mas sim em guerra, a luta aberta entre duas potências políticas
independentes e soberanas, uma República, de um lado e um Império, de outro.
A Revolução Farroupilha explodiu em 19 de setembro de 1835. Nessa
tarde, uma força revolucionária de pouco mais de 200 cavaleiros, comandados
por Vasconselos Jardim e Onofre Pires, acampava na Azenha, arredores da
capital da Província.


Queriam a deposição do presidente Antônio Fernandes Braga, sustentando
que este violava a lei e deveria ser substituído.
Os farroupilhas Gomes Jardim e Onofre Dias desbarataram a Guarda
Municipal (núcleo inicial da futura Brigada Militar do Estado) vindos do Morro da
Glória e Fernandes Braga foge para o porto de Rio Grande, abandonando Porto
Alegre.


A 20 de setembro, Bento Gonçalves da Silva, vindo de Pedras
Brancas(Guaíba) entra triunfante na Capital e, na ausência dos três primeiros
vice-presidentes, empossa no Governo o 4° vice-presidente, Dr. Marciano Pereira
Ribeiro, nomeando Comandante das Armas o Cel. Bento Manoel Ribeiro.
Parece bastante evidente, nessa fase, o espírito legalista dos Farrapos,
empossando na presidência da província na linha de sucessão uma autoridade
constituída, quando seria fácil a Bento Gonçalves, por exemplo, assumir todos os
poderes.


Bento Gonçalves apressou-se em dar conta dos acontecimentos à
Regência, cujo Ministro da Justiça era Feijó e que a 12 de outubro desse mesmo
ano, torna-se-ia Regente Uno.
Assim se expressava Bento Gonçalves em carta a ele dirigida:
“Senhor, em nome do Povo Rio-Grandense, depus o Governo Brava, e
entreguei o Governo ao seu substituto Legal, Marciano Ribeiro”.
E em nome do Rio Grande do Sul, eu lhe digo que nesta Província
extrema, afastada dos corrilhos e conveniências da Corte, dos rapapés e
salamaleques, não toleramos imposições humilhantes, nem insultos de qualquer
espécie. O Pampeiro dessas paragens tempera o sangue rio-grandense de modo
diferente de certa gente que por aí há. Nós rio-grandenses prefêrimos a morte no
campo áspero da batalha, às humilhações nas salas blandiciosas do Poaço do
Rio de Janeiro. O Rio Grande é sentelha do Brasil, que olha vigilante para o Rio
da Prata, Merece, pois, mais consideração e respeito. Não pode e nem deve ser
oprimido pelo despotismo. Exigimos que o governo Imperial nos dê um
Governador de nossa confiança, que olhe pelos nossos interesses, pelo nosso
progresso, pela nossa dignidade, ou nos separaremos do Centro e com a espada
na mão saberemos morrer com honra, ou viver com liberdade. É preciso que
Vossa Senhoria, Senhor Regente, saiba que é obra difícil, senão impossível,
escravizar o Rio Grande, impondo-lhe Governadores despóticos e tirânicos. Em
nome do Rio Grande, como brasileiro, eu lhe digo, Senhor Regente: reflita bem
antes de responder, porque da sua resposta depende, talvez, o sossêgo do Brasil.
Dela resultará a satisfação dos justos desejos de um punhado de brasileiros que
defendem contra a voracidade espanhola uma neseja fecunda da Pátria, e dela
também, poderá resultar uma luta sangrenta, a ruína de uma Província, ou a
formação de um novo Estado dentro do Brasil”.

É o próprio líder farroupilha quem consegue com o Rio de Janeiro a
nomeação do novo presidente, o Deputado José Araújo Ribeiro, o qual, assustado
com a efervecência de Porto Alegre, resolve, ao chegar do Rio, empossar-se em
Rio Grande... Foi o que bastou para que os farroupilhas mais exaltados lhe
retirassem o precário apoio . Bento Manoel Ribeiro troca de lado, voltando a servir
o Império e para seu posto é nomeado o Major João Manoel de Lima e Silva e o
Dr. Marciano Pereira Ribeiro como presidente.


Parece bem claro: não fora a intransigência dos conservadores e do
Império a revolução poderia ter findado sem MAIORES VÍTIMAS.
Os principais combates da Revolução Farroupilha foram:

- Combate de Arroio Grande, 14 de outubro de 1835 – entre as forças do
legalistão João Nunes da Silva Tavares e o farroupilha Antunes da Porciúncula.
Vitória legalista;
- 16 de outubro de 1835 – combate entre as forças farroupilhas comandadas por
Antônio de Souza Neto e as legalistas de Silva Tavares. Vitória farroupilha, tendo
o comandante legalista fugido para o Uruguai;
- 21/03/1836 – o farrapo Lima e Silva, jovem, brilhante e impetuoso, apesar de
não ser rio-grandense, derrota seu antigo companheiro Bento Manoel Ribeiro;
- 07/04/1836 – Lima e Silva obtém outra vitória, em Pelotas, obrigando à rendição
o legalista Major Marques de Souza.
No Passo dos Negros, ainda em abril, foi derrotado e aprisionado o Coronel
legalista Albano de Oliveira Bueno;
- 09/04/1836 – Pinto Bandeira surpreende os farroupilhas em Torres, derrotandoos;
- 12/04/1836 – O legalista Juca Ourives é derrotado por Lima e Silva, no Faxinal,
em Viamão;
- 22/04/1836 – Onofre Pires derrota em Mostardas os legalistas comandados pelo
Capitão Francisco Pinto Bandeira;
- 12/06/1836 – Bento Gonçalves derrota no Arroio dos Ratos os imperialoistas
comandados pessoalmente por Bento Manoel Ribeiro, o qual conseguiu fugir.
- 13/06/1836 – Domingos Crescêncio derrota o legalista Silva Tavares na Lagoa
Cajubá.
- 15/06/1836 – Data negra para a Revolução Farroupilha.
O Major Marques de Souza, que se rendera aos farroupilhas e que estava preso
no navio Presiganga, subornou seu caecereiro pernambucano e fugiu para Porto
Alegre. Na capital, com a cumplicidade do Mar. João de Deus Mena Barreto,
surpreendeu os farroupilhas apossando-se do Palácio do Governo e expulsandoos
de Porto Alegre.

Nunca mais os farroupilhas conquistariam a Capital Gaúcha, a qual,
por este feito, ganhou do Império o título de “Leal e Valorosa” que hoje ostenta em
seu brasão. Marque de Souza, terminou sendo designado por seu feito “Conde de
Porto Alegre”.

Bento Gonçalves, no fim de junho, pessoalmente, comanda o ataque e
cerco à Capital, sem resultado.
O heroísmo de seus defensores é incrível, repelindo todas as
investidas farroupilhas.

A 12 de julho, Antônio de Souza Neto, guerrilheiro notável, estancieiro
que gostava de bailes e carreiras, elegante a ponto de só entrar em combate com
uniforme de gala e ostentando todas as suas condecorações, derrota João da
Silva Tavares, o qual se vê novamente obrigado a fugir para o Uruguai.
A 10 de setembro, na grande batalha do Seival, Antônio de Souza Neto
se encontra novamente com Silva Tavares, infligindo-lhe uma derrota aplastante.
Foi tão grande o entusiasmo dos farroupilhas com esta vitória que
Antônio de Souza Neto, ao que se diz, estimulado por Joaquim Pedro Soares e
Manuel Lucas de Oliveira, comandantes de seus batalhões, na manhã do dia 11
de setembro proclamou a República Rio-Grandense, declarando separado o Rio
Grande do Sul do Brasil.

MARCOS DA REVOLUÇÃO FARROUPILHAS
- Monumento Bento Gonçalves na Av. João Pessoa.
- Ponte da Azenha – travessia por onde passou Bento Gonçalves,
atualmente restaurada devido a um incêndio.
- Moinhos de Vento – ponto de observação e ataque.
- Monumento a Garibaldi – em frente ao Restaurante Copacabana.


II FASE – GUERRA DOS FARRAPOS

Com a Proclamação da República Rio-Grandense pode-se falar em
Guerra dos Farrapos e não mais em Revolução Farroupilha, porque agora se trata
da beligerância entre um Império e uma República.

A Guerra dos Farrapos, durante a qual o Rio Grande do Sul tratou de
organizar-se burocraticamente como uma nação republicana, soberana e livre,
alternou momentos de grande violência bélica, onde as vitórias foram mais
freqüentes que as derrotas no campo das armas com momentos de paz,
desenvolvimento e progresso, onde os gaúchos mostraram sua perfeita
capacidade de gerir com honestidade e competência um Estado soberano.

Os gaúchos, apenas, não: em todos os campos, do militar ao político,
do jornalístico ao filosófico, houve gente não nascida no Rio Grande que se
somou a essa jovem e empolgada República. Domingos José de Almeida,
Ministro de Estado, gênio financista e fazedor de cidades, era mineiro. João
Manoel de Lima e Silva, o primeiro general do exército republicano e o mais
jovem, era fluminense. Bento Manoel Ribeiro, que lutou duas vezes ao lado dos
farrapos e duas vezes ao lado do Império, nos dois exércitos com patente de
general e com brilhante ação militar, era paulista de Sorocaba.

Mas foram os cariocas e baianos que ajudaram Bento Gonçalves da
Silva quando de sua prisão no Rio e em Salvador. O filosófico Livio Zambeccari,
era italiano, nobre de Bolonha. O vibrante jornalista, Luigi Rossetti, que foi
secretário de Bento Gonçalves e diretor do Jornal Oficial da República, O POVO,
era italiano e aqui morreu em combate. Italiano também, claro era o jovem
Giuseppe Garibaldi, que organizou e comandou durante poucos anos a Marinha
Rio-Grandense, assim como sua mulher Anita era catarinense.

Fundamental para a sobrevivência da República durante nove anos, foi
o apoio de sacerdotes católicos e de maçons, dos quais a História não se ocupou
devidamente. Ambos, padres e maçons foram fundamentais, tanto na deflagração
do movimento como no apoio das negociações de paz, como ambos igualmente
importantes durante a prisão e fuga dos farrapos, tanto na Corte do Rio de
Janeiro como em Salvador / BA.


III FASE – A PAZ

Decisiva para a paz, foi a ação do jovem Barão de Caxias, fluminense
de nascimento, tão grande cabo de guerra do Império, como negociador e
diplomata. Sua mente e seu coração de brasileiro, católico e maçom eram tão
fulgurantes como sua espada nas ações guerreiras. A paz entre a República Riograndense
e o Império do Brasil acontece no momento em que Caxias
compreende que jamais vencerá pelas armas homens como Antônio de Souza
Neto e seus “mil piratinianos”, que preferiam morrer de espada na mão a renegar
seus princípios republicanos. A demais, estavam golpeando na fronteira as
ameaças e cantos de sereia de Juan Manoel Rosas, o ditador instalado em
Buenos Aires.

Caxias e Porto Alegre (Manoel Marques de Souza), na redação final do
Tratado da Paz, praticamente obrigaram a Corte do Rio de Janeiro a concordar
com todas as exigências dos farrapos, desde que o Rio Grande do Sul se
reintegrasse ao Império do Brasil, na condição de Província, sem quaisquer
represálias. Assim, os brilhantes guerrilheiros farrapos talvez tenham conseguido
na paz a sua vitória fundamental. Pelo lado dos republicanos rio-grandenses o
tratado de paz foi assinado no acampamento do Ponche Verde, em Dom Pedrito
em 28 de fevereiro de 1845. O General Antônio de Souza Neto, o Proclamador
da República Rio-Grandense, não assinou este documento,
e apressadamente foi com os seus homens de sua brigada já com o pé no
estribo para os campos do Uruguai – afinal de contas ele e os “mil piratinianos”,
republicanos de fé não queriam viver debaixo da soberania de um Império.

Pelo lado dos imperialistas sob o comando de Caxias, o tratado foi
assinado no acampamento do rio Santa Maria, já em março.



BIBLIOGRAFIA
- HISTÓRIA GERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Arthur Ferreira
Filho. Editora Globo. Junho de 1958. (pág. 76 em diante).
- HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL. Danilo Lazzarotto. Editora
Sulina, 1982 – (pág. 62).
- A EPOPÉIA FARROUPILHA. Walter Spalding Biblioteca do
Exército, 1963.
- CARTILHA DA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL. Antônio
Augusto Fagundes. Martins Livreiro. 1986.

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