Um pouco mais sobre o General Netto
Antônio de Souza Neto
"Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, falecido na cidade de Corrientes em 1.0 de julho de 1866". É o que se lê na lápide do mausoléu do proclamador da República Rio-Grandense, no cemitério de Bagé, para onde foram transladados e definitivamente guardados a 29 de dezembro de 1966.
Nascido em Povo Nôvo, distrito do Município do Rio Grande, a 11 de fevereiro de 1801, provinha de troncos açorianos e paulistas. Seu pai, o estancieiro José de Souza Neto, nascido no Estreito em 1764, era filho de açorianos - Francisco de Souza Soares e dona Ana Alexandra Fernandes; sua mãe, dona Teotônia Bueno da Fonseca, natural de Vacaria, era filha de paulistas descendentes de bandeirantes - Salvador Bueno e dona Inácia Antônia Bueno.
Mas foi em Bagé que Antônio de Souza Neto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de guerreiro defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império que êle profundamente amava como sua Pátria, mas detestava como monarquia. E por isso, feita a paz de Poncho Verde a l de março de 1845, que pos fim à República Rio-grandense por êle proclamada a 11 de setembro de 1836, destinada a unir-se a todo o Brasil republicano, concordou com os chefes da República que findava para a pacificação do Rio Grande, mas se retirou para Corrientes, República Argentina, exilado voluntário, mas sempre atento às atividades político-sociais do Brasil.
Estancieiro no Uruguai, com seus campos talados e vazios que tudo lhe levara a Revolução Farroupilha a que se dedicara de corpo e alma - para aí se transportou após alguns anos de repouso em Corrientes. E, nas margens do Queguaí, ao norte de Paissandu, tornou-se, em breve, por sua capacidade de trabalho e inteligência, adiantado estancieiro.
Mas jamais abandonou sua terra natal e seu povo. Sempre de olhos atentos, de quando em quando visitava a sua Bagé dos Campos do Seival, onde proclamara a República Rio-Grandense, tomando conhecimento direto dos acontecimentos. E daí saiu, em 1851, com sua cavalaria Brigada de Voluntários Rio-Grandenses - que organizara à sua custa inteiramente, para os campos da luta contra a ditadura de Rosas, o que lhe valeu a promoção a Brigadeiro Honorário do Exército Brasileiro, e a transformação de sua Brigada de Voluntários Gaúchos, em Brigada de Cavalaria Ligeira. Vencido o ditador, voltou à sua estância em Queguaí, para novamente regressar ao Rio Grande do Sul, em 1864, como representante dos estancieiros brasileiros no Uruguai - estancieiros residentes aí -, a fim de apresentar ao govêrno imperial as queixas contra assassínios e roubos ali praticados contra êle e seus concidadãos.
Aliás, já em 1859 havia reclamado, violentamente declarando que, se o govêrno imperial não tomasse providências, êle, Neto, organizaria sua fôrça e assumiria a responsabilidade de invadir o Uruguai e vingar seus concidadãos. Regularizada a situação, com contemporarizações, e algumas medidas preventivas, em breve tudo voltou ao que era dantes e, novamente agredidos com violência, tornou ao Rio Grande do Sul, mas desta vez com podêres maiores.
E, com êsses podêres, foi ao Rio de Janeiro e aí, na côrte, onde foi acolhido com bastante afeto, depôs as queixas perante S. M. D. Pedro II. Pouco mais tarde, à frente de sua Brigada de Cavalaria Ligeira, fazendo a vanguarda do Exército, sob o comando do Marechal João Propicio Menna Barreto, invadia o Estado Oriental do Uruguai, - em auxílio do Presidente eleito da República, Don Venâncio Flores, tomando parte no assalto às trincheiras de Paissandu, onde também se sagrou, no ataque por água, o imperial marinheiro Marcílio Dias, recebendo seu batismo de fogo.
Dessa campanha somente regressou a 20 de fevereiro de 1865 para trabalhar com seus patrícios contra o invasor paraguaio. Sua cavalaria ligeira, nos rencontros entre São Borja e Uruguaiana, até a rendição a 18 de setembro de 1865, ostentou, sempre, ao lado da imperial bandeira do Brasil, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. Aliás, nessa sua fôrça eram numerosos os oficiais e soldados que o haviam acompanhado durante a Revolução Farroupilha.
Em seguida, incorporada a sua fôrça ao Exército do General Manoel Luís Osório, comandante em chefe das tropas em ação no Rio Grande do Sul, Neto transpôs, logo após a rendição de Uruguaiana, o rio Uruguai, marchando por terra até o território paraguaio. E aí, batendo-se com excepcional bravura em Estero Bellaco a 2 de maio de 1866, e depois em Tuiuti a 24 do mesmo mês e ano, foi gravemente ferido. Transportado para o Hospital Militar de Corrientes, faleceu a 1 de julho do mesmo ano, naquele nosocômio.
Antônio de Souza Neto, tropeiro de profissão, soldado por imposição da Pátria, - primeiro a Pátria Rio-Grandense e depois a grande Pátria Brasileira, - passou sua existência a serviço da liberdade e da justiça, para o bem do Brasil e do Rio Grande do Sul.
Iniciando sua vida de estudante em Pelotas, com seus irmãos Rafael e Domingos, foi em seguida para Bagé, onde se dedicou à criação de gado. Tropeiro, percorria o Rio Grande e o Estado Oriental, sendo por seu caráter, por sua dignidade e apresentação pessoal, querido e respeitado por todos. Afeiçoado às carreiras, possuía o melhor plantel de cavalos de corridas em cancha reta.
Como todo o rio-grandense que se prezava, naqueles tempos, também Antônio de Souza Neto se apresentou e foi soldado. Aos 28 anos de idade era capitão de segunda linha. E antes de completar 35 era coronel de legião, em Bagé, onde dia a dia aumentava de prestígio por seu valor, capacidade e inteligência, a par de um coração boníssimo, sempre pronto a proteger o fraco contra as injustiças, e a justiça contra as violências.
o movimento farroupilha, organizado e dirigido por Bento Gonçalves da Silva, encontrou Antônio de Souza Neto já preparado para a defesa dos direitos e liberdades do Rio Grande. E quando rebentou a Revolução, a 20 de setembro de 1835, o valoroso coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé de imediato organizou, auxiliado por José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria que um ano mais tarde se destacaria nos Campos do Seival, derrotando o grande cabo de guerra imperial General João da Silva Tavares e proclamando a República Rio-Grandense, livre e independente, para livrar o povo rio-grandense "a não sofrer por mais tempo a prepotência de um govêrno tirano, arbitrário e cruel como o atual".
Promovido a General da República Rio-Grandense, o grande amigo e admirador de Bento Gonçalves da Silva pouquíssimas vêzes foi vencido durante aquêles quase dez anos de lutas constantes de um país inteiro, bem armado e municiado, contra um pugilo de homens livres do Rio Grande do Sul que, sem jamais tirarem os olhos da grande Pátria, preferiam a morte a um acôrdo desairoso.
E foi ainda Antônio de Souza Neto que, na primeira tentativa de pacificação, em novembro-dezembro de 1840, proposta por Francisco Alvares Machado em nome do govêrno imperial, respondeu à consulta de Bento Gonçalves: - "Enquanto tivermos mil piratinenses e dois mil cavalos, a resposta será esta", dissera, pondo a mão direita nos copos de sua espada, porque as propostas não haviam sido feitas com muita lisura e estavam muito aquém da dignidade daqueles heróis que se batiam contra o Império, sacrificando tudo por um ideal: saúde, família, bem estar, fortuna e propriedades.
O semanário ilustrado de Pôrto Alegre, 'Sentinela do Sul', n.' 7, de 18 de agôsto de 1867, publicando uma bela litografia de I. Weingaertner, retrato do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, assim termina seu comentário biográfico do proclamador da República RioGrandense:
- "Faleceu, pois, o General Neto no cumprimento do mais sagrado dos deveres; e tanto mais apreciável é a sua dedicação quanto é certo que a sua extraordinária riqueza e o prestígio de que gozava o tornavam de tal maneira independente, que tudo quanto fêz foi inteiramente espontâneo e somente inspirado pelo amor à Pátria".
Realmente, Souza Neto, que se iniciara na vida pública como tropeiro, depois de ter pequena fortuna, entregou-se inteiramente aos ideais políticos consagrados na República Rio-Grandense. Depois, reiniciando e reconstituindo sua fortuna, residindo e com propriedade enorme fora da Pátria, nada mais precisava fazer, e tanto assim que, apesar de pequenas perseguições a agregados seus, fôra sempre respeitado e temido no Uruguai, abalou-se, a bem da justiça, de sua estância e novamente, de armas em punho, defendeu os direitos do Brasil, primeiro, contra Rosas, depois contra Aguirre e, finalmente, contra Solano López, do Paraguai.
E aí faleceu, vitimado em combate, no imortal combate de Tuiuti, onde outro gaúcho de fibra, Osório, brilhou mostrando ao mundo o valor, a inteireza e a nobreza do povo sul-rio-grandense.
Antônio de Souza Neto, como Manoel Luís Osório, são autênticos símbolos de um povo e legítimos guias da mais briosa cavalaria do mundo: a Cavalaria do Rio Grande do Sul, - hoje colocada à margem pela motorização, pelos cavalos-vapor... menos belos, menos brilhantes, mas mais temerosos.
A Grandeza de Souza Neto
No desenrolar da Guerra dos Farrapos (ver A Casa das Sete Mulheres, seriado da Globo), uma tropa governista de 1.500 homens estava ocupando a cidade de Rio Pardo, posição de grande valor estratégico, e o general republicano Antônio de Souza Neto, embora contasse com uma força de pouco mais de 900 homens, resolveu atacar a posição inimiga.
Chegou a Rio Pardo na madrugada de 30 de abril de 838 e de tal modo dirigiu o ataque, que em puçás horas tinha se tornado senhor da praça de guerra, derrotando o inimigo que fugiu, deixando para trás 370 mortos, muitos feridos e prisioneiros, entre eles o preto alforriado José Joaquim de Mendanha, respeitado maestro e chefe da banda governista.
Ao receber os prisioneiros, o general Neto garantiu que todos seriam tratados com dignidade, que podiam ficar tranqüilos. Animado com o acolhimento do general, maestro Mendanha deu um passo à frente e disse que desejava pedir-lhe um favor.
- O que queres? - perguntou o general Neto.
E a resposta do maestro Mendanha não se fez esperar.
- Saiba Vossa Excelência que no combate faleceu o coronel mineiro Guilherme José Lisboa. Esse herói poderia ter se salvado, pois que os seus homens, senhor general, o intimaram que se rendesse, e que se assim o fizesse, nada lhe aconteceria, mas ele não aceitou, e mesmo depois ter sido ferido por lança e bala, continuou a pelejar, e afinal morreu e lá está o seu corpo atirado atrás da igreja, pois, com a as permissão, senhor general, eu queria enterrá-lo com dignidade.
- É justo o seu pedido - disse o general. Que lhe seja dado um enterro digno.
Horas depois, o corpo do coronel Lisboa era enterrado, e junto à sepultura estavam ali postados o general Neto e os oficiais superiores do Exército Republicano, numa demonstração de respeito ao soldado inimigo que soubera morrer com honra.
"Aqui descansam os restos mortais do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, falecido na cidade de Corrientes em 1.0 de julho de 1866". É o que se lê na lápide do mausoléu do proclamador da República Rio-Grandense, no cemitério de Bagé, para onde foram transladados e definitivamente guardados a 29 de dezembro de 1966.
Nascido em Povo Nôvo, distrito do Município do Rio Grande, a 11 de fevereiro de 1801, provinha de troncos açorianos e paulistas. Seu pai, o estancieiro José de Souza Neto, nascido no Estreito em 1764, era filho de açorianos - Francisco de Souza Soares e dona Ana Alexandra Fernandes; sua mãe, dona Teotônia Bueno da Fonseca, natural de Vacaria, era filha de paulistas descendentes de bandeirantes - Salvador Bueno e dona Inácia Antônia Bueno.
Mas foi em Bagé que Antônio de Souza Neto desenvolveu a maior parte de sua enorme atividade de guerreiro defensor da Liberdade, da República, da dignidade do Brasil Império que êle profundamente amava como sua Pátria, mas detestava como monarquia. E por isso, feita a paz de Poncho Verde a l de março de 1845, que pos fim à República Rio-grandense por êle proclamada a 11 de setembro de 1836, destinada a unir-se a todo o Brasil republicano, concordou com os chefes da República que findava para a pacificação do Rio Grande, mas se retirou para Corrientes, República Argentina, exilado voluntário, mas sempre atento às atividades político-sociais do Brasil.
Estancieiro no Uruguai, com seus campos talados e vazios que tudo lhe levara a Revolução Farroupilha a que se dedicara de corpo e alma - para aí se transportou após alguns anos de repouso em Corrientes. E, nas margens do Queguaí, ao norte de Paissandu, tornou-se, em breve, por sua capacidade de trabalho e inteligência, adiantado estancieiro.
Mas jamais abandonou sua terra natal e seu povo. Sempre de olhos atentos, de quando em quando visitava a sua Bagé dos Campos do Seival, onde proclamara a República Rio-Grandense, tomando conhecimento direto dos acontecimentos. E daí saiu, em 1851, com sua cavalaria Brigada de Voluntários Rio-Grandenses - que organizara à sua custa inteiramente, para os campos da luta contra a ditadura de Rosas, o que lhe valeu a promoção a Brigadeiro Honorário do Exército Brasileiro, e a transformação de sua Brigada de Voluntários Gaúchos, em Brigada de Cavalaria Ligeira. Vencido o ditador, voltou à sua estância em Queguaí, para novamente regressar ao Rio Grande do Sul, em 1864, como representante dos estancieiros brasileiros no Uruguai - estancieiros residentes aí -, a fim de apresentar ao govêrno imperial as queixas contra assassínios e roubos ali praticados contra êle e seus concidadãos.
Aliás, já em 1859 havia reclamado, violentamente declarando que, se o govêrno imperial não tomasse providências, êle, Neto, organizaria sua fôrça e assumiria a responsabilidade de invadir o Uruguai e vingar seus concidadãos. Regularizada a situação, com contemporarizações, e algumas medidas preventivas, em breve tudo voltou ao que era dantes e, novamente agredidos com violência, tornou ao Rio Grande do Sul, mas desta vez com podêres maiores.
E, com êsses podêres, foi ao Rio de Janeiro e aí, na côrte, onde foi acolhido com bastante afeto, depôs as queixas perante S. M. D. Pedro II. Pouco mais tarde, à frente de sua Brigada de Cavalaria Ligeira, fazendo a vanguarda do Exército, sob o comando do Marechal João Propicio Menna Barreto, invadia o Estado Oriental do Uruguai, - em auxílio do Presidente eleito da República, Don Venâncio Flores, tomando parte no assalto às trincheiras de Paissandu, onde também se sagrou, no ataque por água, o imperial marinheiro Marcílio Dias, recebendo seu batismo de fogo.
Dessa campanha somente regressou a 20 de fevereiro de 1865 para trabalhar com seus patrícios contra o invasor paraguaio. Sua cavalaria ligeira, nos rencontros entre São Borja e Uruguaiana, até a rendição a 18 de setembro de 1865, ostentou, sempre, ao lado da imperial bandeira do Brasil, o pavilhão tricolor da República Rio-Grandense. Aliás, nessa sua fôrça eram numerosos os oficiais e soldados que o haviam acompanhado durante a Revolução Farroupilha.
Em seguida, incorporada a sua fôrça ao Exército do General Manoel Luís Osório, comandante em chefe das tropas em ação no Rio Grande do Sul, Neto transpôs, logo após a rendição de Uruguaiana, o rio Uruguai, marchando por terra até o território paraguaio. E aí, batendo-se com excepcional bravura em Estero Bellaco a 2 de maio de 1866, e depois em Tuiuti a 24 do mesmo mês e ano, foi gravemente ferido. Transportado para o Hospital Militar de Corrientes, faleceu a 1 de julho do mesmo ano, naquele nosocômio.
Antônio de Souza Neto, tropeiro de profissão, soldado por imposição da Pátria, - primeiro a Pátria Rio-Grandense e depois a grande Pátria Brasileira, - passou sua existência a serviço da liberdade e da justiça, para o bem do Brasil e do Rio Grande do Sul.
Iniciando sua vida de estudante em Pelotas, com seus irmãos Rafael e Domingos, foi em seguida para Bagé, onde se dedicou à criação de gado. Tropeiro, percorria o Rio Grande e o Estado Oriental, sendo por seu caráter, por sua dignidade e apresentação pessoal, querido e respeitado por todos. Afeiçoado às carreiras, possuía o melhor plantel de cavalos de corridas em cancha reta.
Como todo o rio-grandense que se prezava, naqueles tempos, também Antônio de Souza Neto se apresentou e foi soldado. Aos 28 anos de idade era capitão de segunda linha. E antes de completar 35 era coronel de legião, em Bagé, onde dia a dia aumentava de prestígio por seu valor, capacidade e inteligência, a par de um coração boníssimo, sempre pronto a proteger o fraco contra as injustiças, e a justiça contra as violências.
o movimento farroupilha, organizado e dirigido por Bento Gonçalves da Silva, encontrou Antônio de Souza Neto já preparado para a defesa dos direitos e liberdades do Rio Grande. E quando rebentou a Revolução, a 20 de setembro de 1835, o valoroso coronel comandante de legião da Guarda Nacional de Bagé de imediato organizou, auxiliado por José Neto, Pedro Marques e Ismael Soares da Silva, o corpo de cavalaria que um ano mais tarde se destacaria nos Campos do Seival, derrotando o grande cabo de guerra imperial General João da Silva Tavares e proclamando a República Rio-Grandense, livre e independente, para livrar o povo rio-grandense "a não sofrer por mais tempo a prepotência de um govêrno tirano, arbitrário e cruel como o atual".
Promovido a General da República Rio-Grandense, o grande amigo e admirador de Bento Gonçalves da Silva pouquíssimas vêzes foi vencido durante aquêles quase dez anos de lutas constantes de um país inteiro, bem armado e municiado, contra um pugilo de homens livres do Rio Grande do Sul que, sem jamais tirarem os olhos da grande Pátria, preferiam a morte a um acôrdo desairoso.
E foi ainda Antônio de Souza Neto que, na primeira tentativa de pacificação, em novembro-dezembro de 1840, proposta por Francisco Alvares Machado em nome do govêrno imperial, respondeu à consulta de Bento Gonçalves: - "Enquanto tivermos mil piratinenses e dois mil cavalos, a resposta será esta", dissera, pondo a mão direita nos copos de sua espada, porque as propostas não haviam sido feitas com muita lisura e estavam muito aquém da dignidade daqueles heróis que se batiam contra o Império, sacrificando tudo por um ideal: saúde, família, bem estar, fortuna e propriedades.
O semanário ilustrado de Pôrto Alegre, 'Sentinela do Sul', n.' 7, de 18 de agôsto de 1867, publicando uma bela litografia de I. Weingaertner, retrato do Brigadeiro Antônio de Souza Neto, assim termina seu comentário biográfico do proclamador da República RioGrandense:
- "Faleceu, pois, o General Neto no cumprimento do mais sagrado dos deveres; e tanto mais apreciável é a sua dedicação quanto é certo que a sua extraordinária riqueza e o prestígio de que gozava o tornavam de tal maneira independente, que tudo quanto fêz foi inteiramente espontâneo e somente inspirado pelo amor à Pátria".
Realmente, Souza Neto, que se iniciara na vida pública como tropeiro, depois de ter pequena fortuna, entregou-se inteiramente aos ideais políticos consagrados na República Rio-Grandense. Depois, reiniciando e reconstituindo sua fortuna, residindo e com propriedade enorme fora da Pátria, nada mais precisava fazer, e tanto assim que, apesar de pequenas perseguições a agregados seus, fôra sempre respeitado e temido no Uruguai, abalou-se, a bem da justiça, de sua estância e novamente, de armas em punho, defendeu os direitos do Brasil, primeiro, contra Rosas, depois contra Aguirre e, finalmente, contra Solano López, do Paraguai.
E aí faleceu, vitimado em combate, no imortal combate de Tuiuti, onde outro gaúcho de fibra, Osório, brilhou mostrando ao mundo o valor, a inteireza e a nobreza do povo sul-rio-grandense.
Antônio de Souza Neto, como Manoel Luís Osório, são autênticos símbolos de um povo e legítimos guias da mais briosa cavalaria do mundo: a Cavalaria do Rio Grande do Sul, - hoje colocada à margem pela motorização, pelos cavalos-vapor... menos belos, menos brilhantes, mas mais temerosos.
A Grandeza de Souza Neto
No desenrolar da Guerra dos Farrapos (ver A Casa das Sete Mulheres, seriado da Globo), uma tropa governista de 1.500 homens estava ocupando a cidade de Rio Pardo, posição de grande valor estratégico, e o general republicano Antônio de Souza Neto, embora contasse com uma força de pouco mais de 900 homens, resolveu atacar a posição inimiga.
Chegou a Rio Pardo na madrugada de 30 de abril de 838 e de tal modo dirigiu o ataque, que em puçás horas tinha se tornado senhor da praça de guerra, derrotando o inimigo que fugiu, deixando para trás 370 mortos, muitos feridos e prisioneiros, entre eles o preto alforriado José Joaquim de Mendanha, respeitado maestro e chefe da banda governista.
Ao receber os prisioneiros, o general Neto garantiu que todos seriam tratados com dignidade, que podiam ficar tranqüilos. Animado com o acolhimento do general, maestro Mendanha deu um passo à frente e disse que desejava pedir-lhe um favor.
- O que queres? - perguntou o general Neto.
E a resposta do maestro Mendanha não se fez esperar.
- Saiba Vossa Excelência que no combate faleceu o coronel mineiro Guilherme José Lisboa. Esse herói poderia ter se salvado, pois que os seus homens, senhor general, o intimaram que se rendesse, e que se assim o fizesse, nada lhe aconteceria, mas ele não aceitou, e mesmo depois ter sido ferido por lança e bala, continuou a pelejar, e afinal morreu e lá está o seu corpo atirado atrás da igreja, pois, com a as permissão, senhor general, eu queria enterrá-lo com dignidade.
- É justo o seu pedido - disse o general. Que lhe seja dado um enterro digno.
Horas depois, o corpo do coronel Lisboa era enterrado, e junto à sepultura estavam ali postados o general Neto e os oficiais superiores do Exército Republicano, numa demonstração de respeito ao soldado inimigo que soubera morrer com honra.
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